Um filme alemão, que tem como produtor Daniel Dreifuss, diretor e roteirista Edward Berger e como protagonista o ator Felix Kammerer, interpretando Paul Bäumer. O longa ganhou 9 indicações ao Oscar em 2023 sendo vencedor de 4 delas: Oscar de Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Direção de Arte; Melhor Fotografia e Melhor Filme Internacional. Isso sem contar todas as premiações no BAFTA e Globo de Ouro também.
Nada de Novo no Front é uma adaptação do livro de mesmo nome no Brasil, porém de título original: Im Westen Nichts Neues (alemão), de 1929, escrito por Erich Maria Remarque. Remarque foi um alemão que viveu na pele a experiência de estar na I Guerra Mundial e transformou o livro em um romance, que conta a experiência do novato e jovem Paul Bäumer, após alistar-se para a guerra. A obra foi um sucesso desde seu lançamento, sendo a primeira da época a trazer uma visão mais crítica com o “outro lado da moeda” em relação a guerra. Para além de quem vence, o lado da tragédia, do terror, do sofrimento e da desumanidade. Hoje o livro tem mais de 10 milhões de exemplares vendidos no mundo e já foi traduzido para 58 línguas!
No entanto, esta edição mais recente do filme Nada de Novo no Front não é a única. A primeira adaptação do livro, levado para o cinema foi em 1930 e também teve 4 indicações ao Oscar, vencendo a de Melhor Filme e Melhor Direção.
A I Guerra Mundial que ficou conhecida como guerra de trincheiras, foi um verdadeiro massacre. Com mais de 10 milhões de mortos e milhões de feridos. Os soldados foram para o campo de batalha achando que já tinham a guerra ganha, mas mal podiam imaginar que aquilo que eles esperavam durar alguns meses, levou 4 anos. 4 anos de tortura, fome, doenças, mortes e mais mortes, para na maior parte do tempo, avançarem um palmo a mais de terras. Com toda certeza, porque a certo ponto, já não era mais sobre posse de terras, era tudo por orgulho. Orgulho, que a produção dirigida por Berger retrata muito bem: veio especialmente de cima, dos políticos e generais da época.
É marcante, cruel e necessário a forma como o filme retrata o contraste dos soldados na guerra, passando frio, fome, dor, desespero e praticamente aguardando a sua vez de morrer “pela pátria” – retrato de um nacionalismo exacerbado e da xenofobia – , enquanto seus líderes políticos comem canapé fresquinho, porque comida requentada não lhes serve para nada.
Produtor Daniel Dreifuss
Daniel Dreifuss nasceu na Escócia mas veio morar no Brasil quando tinha apenas 2 anos, por isso, se considera mineiro de coração. Seu primeiro filme: “No”, se passou no Chile, já sendo indicado ao Oscar como Melhor Filme Estrangeiro em 2013.
Que uma produção como essa a de Nada Novo no Front, com toda certeza deve dar muito trabalho e exigir uma equipe fenomenal, é fato. Agora, o que poucas pessoas nem imaginam é que este projeto já está nas mãos do produtor há cerca de 10 anos! Sim. Em uma entrevista para o canal do Youtube Meu Tio Oscar, o produtor revelou que recebeu o roteiro, trabalhou um tempo no projeto, não foi ao ar e retornou em 2017.
Um produtor de cinema tem realmente que ser focado, persistente, acreditar no projeto e também saber “cozinha-lo” eu diria. Que tem muito a ver com ter a habilidade de ser paciente e ao mesmo tempo manter a constância. Me surpreendi nas entrevistas assistidas de Dreifuss! Fica nítido seu compromisso com as narrativas, sua ânsia por contar histórias e também sua paixão por histórias e personagens profundos, marcantes e complexos. Além disso ele enfatiza que o seu principal objetivo nunca é o prêmio, mas sim as histórias.
Felix Kammerer Como Paul Bäumer
Felix Kammerer tem 27 anos, nasceu na Áustria e esse foi seu primeiro grande trabalho nas telas. Ele é mais um daqueles atores que simplesmente nasceu para o personagem. Berger viu o personagem nele mesmo após centenas de candidatos!
O roteiro traz através de Paul Bäumer – e claro, da euforia de seus colegas no início do filme – um personagem que apresenta um contraste importantíssimo para contextualizar também o estado de espírito dos soldados no início e ao decorrer da guerra. Ao longo do filme, quanto mais próximo os personagens estão do cenário da guerra, nós vemos o brilho morrer, a euforia passar, esperança acabar, o medo, o cansaço e especialmente o arrependimento brotar.
Uma resenha feita por um blog, que você pode consultar clicando aqui, apesar de trazer pontos que eu tenho opinião contrária, coloca uma frase relacionada ao personagem Paul Bäumer que a meu ver se encaixa muito bem: “cada novo acontecimento remove um pedaço da sua sanidade”. É exatamente isso que acontece. Ao assistir o filme, fica nítido que a cada novo soldado (amigo de Paul) morre, uma parte dele se vai também. A cada um que parte, menos sentido tem para ele continuar vivo. Tanto que a última vez que ele volta para o campo de batalha ele já não tem mais nenhum amigo próximo para sobreviver a guerra e voltar com ele para casa, e é quando nós o vemos lutar não mais com objetivo de ganhar a batalha, mas sim de vingar a morte de todos aqueles que se foram.
Por esse e outros motivos, há uma série de monólogos internos nesse personagem e Felix Kammerer os trouxe muito bem. Ele está em uma guerra onde muitas vezes pouco se é dito, mas muito sentido. Há momentos em que Paul Bäumer fala pouco porque é novato no batalhão e ainda está se encaixando, há momentos que ele não fala, por medo, momentos que não encontra palavras, de tanto sofrimento, raiva, tristeza, desespero ou simplesmente porque não dá tempo, não há diálogo, uma guerra acontece. São várias as cenas de poucas palavras mas carregadas de emoção e ação. Certamente, foram muitos os diálogos e monólogos internos que Kammerer pode estabelecer. O fato é que, essas emoções nos foram transmitidas de forma genuína, nem para mais e nem para menos.
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