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McAvoy e a Construção do Personagem Kevin (Fragmentado) com suas 24 Personalidades

Writer's picture: Gabrielle HissaGabrielle Hissa

Aprendendo com McAvoy, como construir um personagem tão complexo, com tantas personalidades, nuances e obter sucesso:



1. Trabalho de corpo muito bem construído:

McAvoy fez um trabalho corporal excelente para cada uma das personalidades de Kevin. Incluindo a exploração de diferentes ritmos corporais, formas de andar – cada personalidade anda de um jeito diferente – até a forma de piscar, de mover a cabeça, quantidade de músculos do rosto que se movem são diferentes postura corporal, coluna, cabeça, diferentes níveis de tensão e tônus: Patricia um corpo mais rígido, tenso, ereto; Hedwig com menos tensão mas carregado de energia, o que o fez não perder o tônus; e Dennis, com um corpo muito firme e baixo gasto energético, mais pendendo para o neutro.

Primeira aparição de Hedwig no filme Fragmentado

Diferentes planos (como chamamos em teatro) são aproveitados: alto, médio e baixo. Como por exemplo Hedwig , personalidade que assume a postura de um menino de 9 anos, em uma cena, explora o plano baixo andando agachado rente ao chão. Cena que para mim foi icônica.




2. Projeção e mudança de voz:

Aqui temos a importância de um ator saber usar sua voz a favor do personagem. Cada uma das personalidades interpretada por McAvoy possui uma voz diferente, com um ritmo diferente, que normalmente acompanha o corpo desse personagem. Patricia que tem o corpo mais rígido e tenso por conseguinte, acaba por adquirir uma voz mais rígida e firme também. Além disso, nós conseguimos através da voz, da respiração e de como é soada cada palavra, sentir o estado de espirito do personagem. Se ele transmite frieza, vingança, superioridade..


Já Hedwig, assim como o corpo assustadoramente desengonçado, temos a percepção de uma voz desengonçada e meio enrolada também. Isso não é regra, mas percebam como uma coisa leva a outra. Por outro lado Dennis, é de pouco falar. Aqui então temos uma a outra forma de usar a voz na atuação: a economia dela – uma provável característica que já deve vir desde o roteiro. É por isso que quando ele surge no corpo de Kevin, não temos dúvida de que é ele. Um personagem de menos palavras mas que fala muito com os olhos, com o corpo. De uma personalidade típica psicopática que é tão má, tão má que não se fala sobre a maldade se faz.



3. Diálogos e monólogos internos:

O devido uso de diálogos internos faz com que o ator com seu personagem, nunca esteja vagando por aí, mesmo na ausência de falas, as ações e reações do personagem em cena são vivas, ativas! Como na cena em que a psicóloga Dr. Karen Fletcher se emociona ao falar para Dennis que o compreende. Antes de se revelar por completo, ele não diz nada, mas seus olhos dizem tudo. Isso faz parte da construção de diálogos internos, monólogos interiores que ator desenvolve estudando o personagem. Existem maneiras diferentes de fazê-lo. Não sei ao certo qual técnica McAvoy utilizou para aplica-los, mas certamente ele utilizou.


Cena de Dennis fingindo ser Barry.


4. Expressão facial e olhar:

As expressões de cada personalidade de Kevin mudam de acordo com o repertório de cada personagem. Até a forma de piscar, de mover a cabeça, quantidade de músculos do rosto que se movem são diferentes. A maneira como McAvoy se dispõe a utilizar os músculos da face para cada um dos personagens é segmentada, diferenciada, específica.

Cena com Hedwig mostrando a janela de seu quarto para Casey.

Patricia não contrai tantos músculos, no personagem Hedwig o vemos explorar mais a movimentação da área da face, com expressões e também um grande alinhamento do que se diz, com a entonação que se diz e por fim chegar na expressão facial. Ele é mais volátil. Além disso, cada personagem carrega um brilho, um peso diferente no olhar.



5. Aplicação de trejeitos específicos:

Isso se volta um pouco ao que mencionamos em corpo, voz e expressão facial. Mas basicamente, a aplicação de trejeitos específicos, nos ajuda a identificar e reconhecer os personagens. Por exemplo:

  • Patricia: está sempre reta (passando superioridade), coluna lançada para trás, cabeça reta e carrega movimentos e tensões particulares e específicas nos braços e nas mãos.

Patricia
  • Hedwig: modo de falar, o riso e a forma como ele mexe a cabeça, não nos deixa enganar.

Hedwig
  • Barry: uma das personalidades de Kevin mais cheia de carisma e possui um corpo e um andar que é somente dele.

Barry
  • Dennis: o corpo reto, firme e tenso. Está sempre limpando alguma coisa. Fala pouco mas carrega muita tensão no olhar.


Dennis

6. Ritmo do personagem:

É legal ver como juntando o trabalho corporal, com o vocal e o a expressão facial que é possível encontrar um ritmo em cada personagem. Como se fosse o ponto de equilíbrio e/ou desequilíbrio em que cada um está. Como uma música, uma trilha sonora. Apenas observando cada um dos personagens após um curto período de tempo seriamos capazes de por exemplo, definir a trilha sonora ou playlist de cada um.


PS: pensar em trilhas sonoras também é um exercício para o ator quando se está estudando um personagem. Só devemos nos lembrar de nunca resumirmos o personagem a apenas isso.



7. Roteiro com texto e personagens bem construídos

Em uma entrevista, McAvoy disse que o que tornou seu trabalho mais prazeroso foi ter um roteiro muito bem construído em mãos. E verdadeiramente, o texto é tudo o que ator tem em mãos para chegar até o personagem final – que pode ou não ser o que roteirista idealizou. É o que está no texto, ou a ausência do que ali se encontra que revela aos poucos o caminho que o ator pode construir com esse personagem.




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